Do Legislativo ao Judiciário – A Lei Complementar nº 135/2010 (“Lei da Ficha Limpa”), a busca pela moralização da vida pública e os direitos fundamentais
DOI:
https://doi.org/10.21056/aec.v13i54.115Keywords:
Direitos fundamentais, democracia, controle de constitucionalidade, inelegibilidades, Lei Complementar nº 135/2010.Abstract
Os direitos políticos são direitos fundamentais, formal e materialmente. A especial proteção constitucionalmente garantida aos direitos fundamentais atingem não apenas o direito de sufrágio, mas, de igual forma, o direito político passivo. A elegibilidade é desenhada a partir de condições e restrições em âmbito constitucional, além de haver um comando normativo ao legislador para, em proteção aos bens jurídicos indicados no artigo 14, §9º, completar o sistema de restrições, com outras hipóteses de inelegibilidades. Isso não pode significar, no entanto, uma autorização para afastar as demais garantias constitucionais. É sobre isso que se debruça o presente estudo, sobre as profundas modificações provocadas no sistema jurídico das inelegibilidades pela Lei Complementar nº 135/2010. Para demonstrar a preocupante opção do Poder Judiciário pela moralidade no lugar da defesa do Estado de Direito, tratar-se-á da construção legislativa da norma, com sua pretensa participação popular, para depois evidenciar os traços de um discurso populista no posicionamento do Supremo Tribunal Federal. Ainda, para melhor abordar o controle de constitucionalidade (não) desempenhado pelo Supremo Tribunal Federal, necessário aqui trazer elementos da teoria dos direitos fundamentais, principalmente sobre a restrição dos direitos fundamentais para evidenciar os equívocos e os artifícios empregados nas construções argumentativas que culminaram na (absurda) declaração de constitucionalidade da Lei “Ficha Limpa”. Ao fim, reflete-se sobre o legado desta decisão e o ocaso do Direito perante a Moral, uma moral subjetiva e plástica, que faz cair por terra os alicerces do ordenamento jurídico.References
ALEXY, Robert. Teoría de los Derechos Fundamentales. Madrid: Centro de Estudios Constitucionales, 1997.
ALMEIDA, Gregório Assagra de. Manual de Ações Constitucionais. Belo Horizonte: Del Rey, 2007.
BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no Direito brasileiro. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
____________. Constituição, democracia e supremacia judicial: direito e política no Brasil contemporâneo. Revista Jurídica da Presidência, Brasília, v. 12, fev./mai. 2010.
CANOTILHO, J. Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 5. ed. Coimbra: Almedina, 2001.
CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 25. ed. rev., ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 2009.
CIRINO DOS SANTOS, Juarez. Direito penal: parte geral. 2. ed. Curitiba: Lumen Juris, 2007.
CLÈVE, Clèmerson Merlin. Controle de constitucionalidade e democracia. In: MAUÉS, Antônio G. Moreira (Org.). Constituição e Democracia. São Paulo: Max Limonad, 2001.
CONSTANT, Benjamin. Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos. Revista Filosofia Política, Porto Alegre, n. 2, 1985.
COSTA, Adriano Soares da. Inabilitação para mandato eletivo: aspectos eleitorais. Belo Horizonte: Ciência Jurídica, 1998.
COSTA, Pietro; ZOLO, Danilo (Orgs). O Estado de Direito: História, teoria, crítica. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
DWORKIN, Ronald. Liberalismo, Constitución y Democracia. Buenos Aires: La isla de la luna, 2003.
FERREIRA, Pinto. O problema da inelegibilidade. Revista Forense, v. 186, ano 56, nov./dez. 1959.
GABARDO, Emerson. Interesse público e subsidiariedade. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2009.
GONÇALVES, Guilherme de Salles; PEREIRA, Luiz Fernando Casagrande; STRAPAZZON, Carlos Luis (Coord.). Direito eleitoral contemporâneo. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional – a Sociedade Aberta dos Intérpretes da Constituição: a Constituição para e Procedimental da Constituição. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1997.
HABERMAS, Jürgen. A Constelação pós-nacional. Ensaios políticos. São Paulo: Littera Mundi, 2001.
HACHEM, Daniel Wunder. Princípio constitucional da supremacia do interesse público. Belo Horizonte: Editora Fórum, 2011.
HIRSHL, Ran. Towards juristocracy: the origins and consequences of the new constitutionalism. Cambridge, MA: Harvard University Press, 2004.
LUDWIG, Celso Luiz. Para uma filosofia jurídica da libertação: paradigmas da filosofia da libertação e direito alternativo. Florianópolis: Conceito Editorial, 2006.
MELO, José Tarcízio de Almeida. Questões polêmicas na Justiça Eleitoral: fidelidade partidária, direitos das coligações, duplicidade de filiação, propaganda extemporânea e vida pregressa desabonadora. Revista de doutrina e jurisprudência do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais, Belo Horizonte, n. 17, 2008.
MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e direitos fundamentais. São Paulo: Saraiva, 2011.
MIRANDA, Jorge. Direito Constitucional III: Direito Eleitoral e Direito Parlamentar. Coimbra: Almedina, 2003.
NOVAIS, Jorge Reis. As restrições aos direitos fundamentais não expressamente autorizadas pela Constituição. Coimbra: Coimbra Editora, 2003.
PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Sistema de Ciência Positiva do Direito. Tomo IV. 2 ed. Rio de Janeiro: Editor Borsoi, 1972.
SALGADO, Eneida Desiree. Princípios Constitucionais Eleitorais. Belo Horizonte: Fórum, 2010.
____________; BERNADELLI, Paula. A inocuidade da reforma política a fórceps – ou a escolha do eleitor antes e depois da Resolução n° 22.610 do Tribunal Superior Eleitoral – ou, ainda, como diria o poeta, “os lírios não nascem das leis”. Revista Brasileira de Direito Eleitoral, n. 5, ano 3, jul./dez. 2011.
SILVA, Luís Virgílio Afonso da. O STF e o controle de constitucionalidade: deliberação, diálogo e razão pública. Revista de Direito Administrativo, v. 250, 2009.
TUSHNET, Mark. Taking the Constitution away from the Courts. Princeton: Princeton University Press, 1999.
VELLOSO, Carlos Mario da Silva; AGRA, Walber de Moura. Elementos de Direito Eleitoral. São Paulo: Saraiva, 2009.
ZAGREBELSKY, Gustavo. Principios y votos. El Tribunal Constitucional y la política. Madrid: Editorial Trotta, 2008.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Authors who publish in this Journal agree to the following terms:
- Authors retain copyright and grant the A&C - Administrative & Constitutional Law Review the right of first publication with the article simultaneously licensed under the Creative Commons - Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International which allows sharing the work with recognition of the authors and its initial publication in this Journal.
- Authors are able to take on additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the paper published in this Journal (eg.: publishing in institutional repository or as a book), with a recognition of its initial publication in this Journal.
- Authors are allowed and encouraged to publish their work online (eg.: in institutional repositories or on their personal website) at any point before or during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of the published work (see theEffect of Open Access).