A teoria do constitucionalismo democrático para a legitimação do fluxo dialógico no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v24i98.1942

Palavras-chave:

teoria do constitucionalismo democrático; Constituição; diálogos institucionais; fluxo dialógico; reação legislativa.

Resumo

A teoria do constitucionalismo democrático idealizada pela doutrina norte-americana apregoa que os poderes formadores do Estado devem promover, entre si, movimentos e interações recíprocas capazes de fomentar um fluxo dialógico salutar para o desenvolvimento da democracia e do constitucionalismo, aperfeiçoando a jurisdição constitucional. Conformado em Estado democrático de direito, o Brasil possui características que se amoldam de forma plena a esse cenário de necessária busca pelo aprimoramento dos ramos do poder. Dessa forma, a partir de metodologia hipotético-dedutiva e pesquisa bibliográfica, o trabalho discorreu, num primeiro momento, sobre a teoria do constitucionalismo democrático e sua posição mais acertada em relação a visões dicotômicas e maniqueístas que preconizam a “última palavra” da interpretação da Constituição pelo Legislativo ou pelo Judiciário. Em seguida, procurou-se exemplificar o diálogo institucional havido entre os poderes nos desdobramentos da discussão sobre o casamento e união estável entre casais homoafetivos e nos projetos de lei sobre a temática. Por fim, concluiu-se que, especificamente com relação à aplicação a teoria estudada, os poderes têm se mostrado emancipatórios e com representatividade adequada nos dias atuais, promovendo diálogos cumpridores das regras do jogo democrático.

Biografia do Autor

  • Daniel Castanha de Freitas, FAE Centro Universitário

    Docente de Direito Administrativo na FAE Centro Universitário (Curitiba, PR, Brasil). Doutor e Mestre em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Foi Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, modalidade taxa. Advogado.

  • Danielle Uessler, Pontifícia Universidade Católica do Paraná

    Mestranda em Direito Econômico e Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (Curitiba, Brasil). Advogada.

Referências

AMARAL JÚNIOR, José Levi Mello do. Medida provisória e sua conversão em lei: a Emenda Constitucional n. 32 e o papel do Congresso Nacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.

ARAÚJO, Luiz Henrique Diniz. Does Brazil need a notwithstanding clause? Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 2, p. 329-345, maio/ago. 2022.

BARROSO, Luís Roberto. O constitucionalismo democrático no Brasil: crônica de um sucesso imprevisto. Disponível em: < https://luisrobertobarroso.com.br/wp-content/uploads/2023/11/O-constitucionalismo-democratico-no-Brasil.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2024.

BARROSO, Luís Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição sistemática da doutrina e análise crítica da jurisprudência. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.

BITENCOURT, Caroline Müller. Controle jurisdicional de políticas públicas. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2013.

BOBBIO, Norberto. O futuro da democracia: uma defesa das regras do jogo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Apresentação do Parecer da Comissão Especial, sob relatoria do Dep. Diego Garcia de 01 de setembro de 2015. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1379862&filename=Tramitacao-PL%206583/2013. Acesso em: 20 abr. 2024.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Parecer à Emenda Apresentada ao Substitutivo do Relator ao Projeto de Lei nº 6583/2013. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1387363&filename=Tramitacao-PL%206583/2013. Acesso em: 20 abr. 2024.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Decreto Legislativo nº 224 de 25 de maio de 2011. Objetivava sustar a decisão do Supremo Tribunal Federal proferida na ADI 4277 e na ADPF 132. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=503973. Acesso em: 28 abr. 2024.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 5167 de 05 de maio de 2009. Proíbe a equiparação da relação entre pessoas do mesmo sexo ao casamento ou à entidade familiar. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=432967. Acesso em: 20 abr. 2024.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 6583 de 16 de outubro de 2013. Institui o Estatuto da Família. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=597005. Acesso em: 28 abr. 2024.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 4.277. Relator: Min. Ayres Britto. Tribunal Pleno. Julg. 05.05.2011. DJ 14.10.2011.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2984. Relatora: Min. Ellen Gracie. Tribunal Pleno. Julg. 04.09.2003. DJ 14.05.2004.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 295. Relator Min. Paulo Brossard. Relator p/ Acórdão: Min. Marco Aurélio. Tribunal Pleno. Julg. 22.06.1990. DJ 22.08.1997.

BRUST, Leo. A interpretação conforme a Constituição e as sentenças manipulativas. Revista Direito GV, São Paulo, v. 5, n. 2, p. 507-526, jul./dez. 2009.

BUCCI, Maria Paula Dallari. As ações afirmativas no Supremo Tribunal Federal: conexões entre direito e política na difícil promoção da equidade racial no Brasil. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 21, n. 83, p. 51-74, jan./mar. 2021.

CARVALHAES, Rafael Bitencourt; MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Questioning our faith in the judiciary: from institutional entrenchment to the monopoly of constitution. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 2, p. 347-370, maio/ago. 2022.

COSTA, Daniel Castro Gomes da et al (Coord.). Democracia, Justiça e Cidadania: desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Fórum, 2020.

DANTAS, Ingrid Cunha; FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Constitucionalismo democrático: entre as teorias populares do constitucionalismo e um novo aporte do papel das cortes na democracia. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, v. 64, n. 2, p. 61-88, mai./ago., 2019.

DONNELLY, Tom. Making popular constitutionalism work. Harvard Public Law, Cambridge, Working Paper No. 11-29, p. 159-194, nov. 2011. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=1962580. Acesso em: 20 abr. 2024.

DWORKIN, Ronald. O império do direito. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.

FREITAS, Daniel Castanha de. Direito fundamental à saúde e medicamentos de alto custo. Belo Horizonte: Fórum, 2018.

GÓMEZ BISOGNO, Francisco Vázquez. El control de reformas constitucionales y el sistema de «checks and balances»: Una propuesta a la luz de la ingeniería constitucional en la que la magistratura constitucional se legitime al no tener la última palabra. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 3, p. 543-577, set./dez. 2022.

GÓMEZ-VELÁSQUEZ, Alejandro. La colaboración armónica entre poderes: un principio inherente y necesario para el constitucionalismo transformador latinoamericano. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 10, n. 2, e238, maio/ago. 2023.

HABERMAS, Jürgen. Between facts and norms: contributions to a discourse theory of law and democracy. Cambridge: The MIT Press, 1996.

HACHEM, Daniel Wunder; PETHECHUST, Eloi. A superação das decisões do STF pelo Congresso Nacional via emendas constitucionais: diálogo forçado ou monólogos sobrepostos? Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 1, p. 209-236, jan./abr. 2021.

HACHEM, Daniel Wunder; PETHECHUST, Eloi. Supremacia judicial no constitucionalismo brasileiro: riscos à democracia e as alternativas das teorias dos diálogos constitucionais. Revista Brasileira de Estudos Políticos, v. 121, p. 203-250, jul./dez. 2020.

HART, Herbert. O conceito de direito. 5. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

KOZICKI, Katya. O conceito de direito em Hart. Enciclopédia Jurídica da PUCSP. Disponível em: https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/137/edicao-1/o-conceito-de-direito-em-hart. Acesso em: 28 abr. 2024.

LEAL, Rogério Gesta. Riscos e possibilidades do ativismo judicial na democracia. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 21, n. 83, p. 119-135, jan./mar. 2021.

LEVY, Leonard W.; KARST, Kenneth L. Encyclopedia of the American Constitution. 2. ed. New York: Macmillan Reference USA, 2000.

LIMA, Sabrina Santos; LEAL, Mônia Clarissa Hennig. O controle de constitucionalidade e a atuação do Supremo Tribunal Federal na proteção das minorias: análise crítica da ADC nº 41 (cotas raciais em concursos públicos). Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 507-528, maio/ago. 2021.

LOURO, Dênio José Rodrigues. Medidas provisórias: o impacto e os efeitos negativos produzidos para o parlamento brasileiro à luz da Emenda Constitucional nº 32, de 2001. Brasília, 2014. 51 f. Monografia (Pós-Graduação) – Senado Federal, Instituto Legislativo Brasileiro.

MAMEDE, Juliana Maria Borges; LEITÃO NETO, Helio das Chagas; RODRIGUES, Francisco Luciano Lima. O estado de coisas inconstitucional e o compromisso significativo enquanto instrumentos do constitucionalismo dialógico no Brasil: virtudes e limites. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 3, p. 807-835, set./dez. 2021.

MEDAUAR, Odete. Variações sobre um tema de todos: democracia. In: COSTA, Daniel Castro Gomes da et al (Coord.). Democracia, Justiça e Cidadania: desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Fórum, 2020.

MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo, 2008. 219 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, Universidade de São Paulo.

PAIXÃO, Shayane do Socorro de Almeida da; SILVA, Sandoval Alves da; COSTA, Rosalina Moitta Pinto da. A superação dos precedentes na teoria dos diálogos institucionais: análise do caso da Vaquejada. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 1, p. 275-301, jan./abr. 2021.

PIMENTEL, Mariana Barsaglia. Backlash às decisões do Supremo Tribunal Federal sobre união homoafetiva. Revista de Informação Legislativa – RIL, Brasília v. 54, n. 214, p. 189-202, abr./jun. 2017.

POST, Robert; SIEGEL, Reva. Roe Rage: democratic constitutionalism and backlash. Yale Law School Public Law & Legal Theory, Research Paper Series no. 131, jun. 2007. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=990968. Acesso em: 28 abr. 2024.

RIOS, Roger Raupp. Proteção de direitos LGBTQIA+ no Direito brasileiro: momentos e descompassos jurídicos e políticos. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 3, p. 659-680, set./dez. 2022.

SALGADO, Eneida Desiree; GABARDO, Emerson. The role of the Judicial Branch in Brazilian rule of law erosion. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 3, p. 731-769, set./dez. 2021.

SARTORI, Giovanni. Constitutionalism: a preliminar discussion. The American Political Science Review, v. 56, n. 4, p. 853-864, dez., 1962.

SCHIER, Adriana da Costa Ricardo; FREITAS, Daniel Castanha de. O protagonismo do órgão jurisdicional: uma pesquisa empírica da perspectiva dos magistrados do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná sobre o ativismo judicial. Interesse Público – IP, Belo Horizonte, v. 19, n. 101, p. 115-130, jan./fev., 2017.

SCHMITT, Carl. Legalidad y legitimidad. Madrid: Aguilar, 1971.

SEROTA, Michael Eli. Popular Constitutional Interpretation. Connecticut Law Review, v. 44, n. 5, p. 1635-1673, set. 2012. Disponível em: https://ssrn.com/abstract=1807226. Acesso em: 28 abr. 2024.

SHAPIRO, Martin. APA: past, present, future. Virginia Law Review, Charlottesville, v. 72, n. 2, p. 447-492, mar. 1986.

SILVA, Marco Aurélio Souza da. Ativismo, populismo e judicialização da política: a difícil tarefa de compreender o comportamento decisório judicial. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 23, n. 93, p. 101-131, jul./set. 2023.

STRECK, Lenio Luiz. O que é isto – Decido conforme minha consciência? 4. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2013.

SUNSTEIN, Cass R. If people would be outraged by their rulings, should judges care? University of Chicago Law & Economics, Olin Working Paper n. 332, fev., 2007. DOI: http://dx.doi.org/10.2139/ssrn.965581.

SUNSTEIN, Cass R.; THALER, Richard H. Nudge: o empurrão para a escolha certa. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

SZPORER, Patrícia Cerqueira Kertzman; SZPORER, Maurício Kertzman; OLIVEIRA NETO, Valmir Chaves. O diálogo institucional entre os poderes legislativo e judiciário: o contexto da judicialização da política e a mudança do paradigma da “última palavra decisória”. In: COSTA, Daniel Castro Gomes da et al (Coord.). Democracia, Justiça e Cidadania: desafios e perspectivas. Belo Horizonte: Fórum, 2020.

VALLE, Vanice Regina Lírio do; PULCINELLI, Eliana; MANEIRO, Renata de Marins Jaber. Contestação, persuasão e consenso no STF: construindo um constitucionalismo democrático. Rio de Janeiro: Gramma, 2016.

VARGAS, Eliziane Fardin de; LEAL, Mônia Clarissa Hennig. Discriminação estrutural e cotas raciais para candidaturas negras em partidos políticos: análise da decisão do Supremo Tribunal Federal na arguição de descumprimento de preceito fundamental 738/DF. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 10, n. 1, e240, jan./abr. 2023.

VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Diálogo institucional e controle de constitucionalidade: debate entre STF e o congresso Nacional. São Paulo: Saraiva, 2015.

VICTOR, Sérgio Antônio Ferreira. Presidencialismo de coalizão: exame do atual sistema de governo brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2015.

WALDRON, Jeremy. A dignidade da legislação. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

WHITTINGTON, Keith E. Constitutional construction: divided powers and constitutional meaning. Cambridge: Harvard University Press, 2001.

WILLEMAN, Marianna Montebello. O judicial review na perspectiva da “geração fundadora” e a afirmação da supremacia judicial nos Estados Unidos. Revista de direito da Procuradoria Geral, Rio de Janeiro, n. esp.: Administração, Risco e Segurança Jurídica, p. 157-176, 2014.

Publicado

2024-12-20

Como Citar

FREITAS, Daniel Castanha de; UESSLER, Danielle. A teoria do constitucionalismo democrático para a legitimação do fluxo dialógico no Brasil. A&C - Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, v. 24, n. 98, p. 161–185, 2024. DOI: 10.21056/aec.v24i98.1942. Disponível em: https://revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/1942. Acesso em: 5 fev. 2025.