Judicialização da saúde, acesso a medicamentos e diálogos institucionais
DOI:
https://doi.org/10.21056/aec.v21i83.1294Keywords:
direito à saúde, acesso a medicamentos, judicialização da saúde, diálogos institucionais, SUS.Abstract
O artigo buscou examinar os vínculos entre acesso à justiça e a efetividade de um dos aspectos do direito à saúde no Brasil, o acesso a medicamentos, a partir dos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 566.741/RN e à luz da compreensão e aplicação das teorias dos diálogos institucionais pela Suprema Corte. Discutiu-se que, de maneira geral, há apenas uma enunciação retórica das teorias dos diálogos institucionais (que valorizam, em regra, as capacidades institucionais de cada Poder e a autocontenção do Poder Judiciário) sem de fato aplicá-la. Nesse sentido é representativo o voto do ministro Luís Roberto Barroso, o qual, apesar de expressamente enunciar a aplicação das teorias dos diálogos, não as aplica para resolver o problema da usurpação das funções da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) pelo Poder Judiciário através dos Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário (NatJus), perpetuando a dissolução do direito constitucional a políticas públicas de saúde em um mero direito subjetivo a medicamentos. Concluiu-se que uma possível e definitiva solução dessa questão passa pelo aperfeiçoamento do accountability sobre o Poder Judiciário, de modo que, entre outras coisas, possa ampliar o compartilhamento das consequências políticas e econômicas de suas decisões com a sociedade.References
ACKERMAN, Bruce. The new separation of powers. Harvard law review, v. 113, p. 633-729, Jan. 2000.
ALCÂNTARA, Gisele Chaves Sampaio. Judicialização da Saúde: uma reflexão à luz da teoria dos jogos. Revista CEJ, Brasília, vol. 16, n. 57, p. 88-94, 2012, p. 90. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2019.
ARGUELHES, Diego Werneck; RIBEIRO, Leandro Molhano. ‘The Court, it is I’? Individual judicial powers in the Brazilian Supreme Court and their implications for constitutional theory. Global Constitutionalism, vol. 7, n. 2, p. 236-262, 2018.
ÁVILA, Ana Paula Oliveira; MELO, Karen Cristina Correa de. Separação de poderes e diálogos institucionais nos litígios envolvendo o direito à saúde. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 5, n. 1, p. 83-108, abr. 2018. Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2019.
BARROSO, Luís Roberto. Voto. In: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 566.471/RN. Relator: ministro Marco Aurélio. Brasília, 15 set. 2016. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2018.
BERCOVICI, Gilberto. A Constituição invertida: a Suprema Corte Americana no combate à ampliação da democracia. Lua Nova, São Paulo, n. 89, p. 107-134, 2013. Disponível em . Acesso em: 10 maio 2018.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Diário Oficial da União de 20.9.1990. Atos do Poder Legislativo, Brasília, DF. Disponível em: . Acesso em: 28 jan. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Em. Decl. no Recurso Extraordinário nº 855.178/SE. Relator: ministro Luiz Fux. Julgamento: 22 de maio de 2019. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. ATA Nº 12, de 22/05/2019. DJE nº 119, divulgado em 03/06/2019. Disponível em: . Acesso em 02 fev. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 566.471/RN. Relator: ministro Marco Aurélio. Andamento. Brasília: DJe, 11 set. 2018. Disponível em: . Acesso em: 03 fev. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 631.240/MG. Relator: ministro Luís Roberto Barroso. Recorrente: Instituto Nacional do Seguro Social – INSS. Recorrido: Marlene de Araújo Santos. Acórdão. Julgamento: 03 nov. 2014. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: Brasília: DJe, 10 nov. 2014 - Ata n. 167/2014; DJe, n. 220, divulgado em: 07 nov. 2014 Disponível em: . Acesso em: 02 fev. 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 657.718/MG. Relator: ministro Marco Aurélio. Julgamento: 22 maio 2019. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. ATA Nº 12, de 22/05/2019. DJE nº 119, divulgado em 03/06/2019. Disponível em: . Acesso em: 02 fev. 2020.
BURGOS, Marcelo; VIANNA, Luiz Werneck. Revolução Processual do Direito e Democracia Progressiva. In: VIANNA, Luiz Werneck (Org.). A Democracia e os Três Poderes no Brasil. Belo Horizonte: UFMG; Rio de Janeiro: IUPERJ/FAPERJ, 2002. p. 337-491.
CLÈVE, Clèmerson Merlin; LORENZETO, Bruno Meneses. Diálogos institucionais: estrutura e legitimidade. Revista de Investigações Constitucionais. Núcleo de Investigações Constitucionais da UFPR. Periodicidade quadrimestral, vol. 2, n. 3, Curitiba, setembro/dezembro, 2015. Disponível em: . Acesso em: 02 jul. 2019.
COOTER, Robert. The strategic constitution. Princeton University Press, 2002.
FACHIN, Edson. Voto. In: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 566.471/RN. Relator: ministro Marco Aurélio. Brasília, 28 set. 2016. Disponível em: . Acesso em: 08 jul. 2019.
FERRAZ, Octávio Luiz Motta. Para equacionar a judicialização da saúde no Brasil. Revista Direito GV, São Paulo, vol. 15, n. 3, p. e1934, nov. 2019. Disponível em: . Acesso em: 15 jan. 2020.
GODOY, Miguel Gulano de. Devolver a constituição ao povo: crítica à supremacia judicial e diálogos institucionais. Belo Horizonte: Fórum, 2017.
HIRSCHL, Ran. The political origins of the new constitutionalism. Indiana Journal of Global Legal Studies, v. 11, n. 1, p. 71-108, 2004.
KOZICKI, Katya; ARAÚJO, Eduardo Borges. Um Contraponto Fraco a um Modelo Forte: o Supremo Tribunal Federal, a última palavra e o diálogo. Sequência, Florianópolis, 2015, n. 71, p. 107-132. Disponível em: . Acesso em: 02 abr. 2018.
MAPELLI JÚNIOR, Reynaldo. Judicialização da saúde e políticas públicas: assistência farmacêutica, integralidade e regime jurídico-constitucional do SUS. 2015. 369 f. Tese (Doutorado) - Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. Disponível em: . Acesso em: 02 jul. 2019.
MARIANO, Cynara Monteiro; MAIA, Isabelly Cysne. Augusto. Possíveis contribuições do estado de coisas inconstitucionais para efetivação do serviço público de acesso a medicamento de alto custo: análise dos recursos extraordinários nº 566.471/RN e nº 657.718/MG. Nomos, Fortaleza, vol. 38, p. 391-416, 2018. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2019.
MELLO, Marco Aurélio. Voto. In: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 566.471/RN. Relator: ministro Marco Aurélio. Brasília, 27 set. 2016. Disponível em: . Acesso em: 30 nov. 2019.
MENDES, Conrado Hübner. Direitos Fundamentais, separação dos poderes e deliberação. 2008. 219 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. Disponível em: . Acesso em: 02 abr. 2018.
PIERRO, Bruno. Demandas crescentes. Pesquisa Fapesp, vol. 252, p. 18-25, fev. 2017. Disponível em: . Acesso em: 30 jun. 2019.
PRADO, Mariana Mota; TREBILCOCK, Michael J. Path Dependence, Development, and the Dynamics of Institutional Reform. University of Toronto Law Journal, Legal Studies Research Paper, University of Toronto, n. 09-04, p. 1-46, 30 abr. 2009. Disponível em: . Acesso em: 02 ago. 2019.
ROCHA, Lara Bonemer; SILVA, Maria Clara Marussi. Judicialização da saúde: evolução da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal a partir dos REs 566.471 e 657.718. Revista Direitos Sociais e Políticas Públicas, Bebedouro, SP: UNIFAFIBE, vol. 4, p. 116, 2016. Disponível em: . Acesso em: 15 jul. 2019.
RODRIGUES, Daniel dos Santos. Judicialização da Política e Democracia – uma Análise a partir de Chantal Mouffe e Mark Tushnet. Revista Brasileira de Filosofia do Direito, vol. 5, n. 1, p. 100-121, 2019.
SOMBRA, Thiago Luís Santos. Supremo Tribunal Federal representativo? O impacto das audiências públicas na deliberação. Revista Direito GV, São Paulo, vol. 13, n. 1, p. 236-273, abr. 2017. Disponível em . Acesso em: 04 maio 2018.
TOMIO, Fabrício Ricardo de Limas; ROBL FILHO, Ilton Norberto. Accountability e independência judiciais: uma análise da competência do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Revista de Sociologia e Política, vol. 21, n. 45, p. 29-46, 2013.
TUSHNET, Mark. Weak Courts, strong rights: judicial review and social welfare rights constitutional law. Kindle Edition. Princeton: Princeton University Press, 2008.
WANG, Daniel Wei Liang. Can litigation promote fairness in healthcare? The judicial review of rationing decisions in Brazil and England [thesis]. London: London School of Economics and Political Science, 2013, p. 292. Disponível em . Acesso em: 20 ago. 2019.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Authors who publish in this Journal agree to the following terms:
- Authors retain copyright and grant the A&C - Administrative & Constitutional Law Review the right of first publication with the article simultaneously licensed under the Creative Commons - Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International which allows sharing the work with recognition of the authors and its initial publication in this Journal.
- Authors are able to take on additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the paper published in this Journal (eg.: publishing in institutional repository or as a book), with a recognition of its initial publication in this Journal.
- Authors are allowed and encouraged to publish their work online (eg.: in institutional repositories or on their personal website) at any point before or during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of the published work (see theEffect of Open Access).