O constitucionalismo da falta no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.21056/aec.v17i70.497Keywords:
constitucionalismo brasileiro, História do Direito, teoria crítica da Constituição, Hannah Arendt, Paul Ricœur.Abstract
As narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro ainda predominantes na dogmática constitucional são marcadas por um ressentimento quanto ao passado constitucional, no sentido de que as experiências brasileiras representam a história de um fracasso, ou de uma tragédia, do processo de constitucionalização no Brasil. Assim, pretende-se, neste artigo, a formulação de uma crítica a essa perspectiva da dogmática constitucional, apontando-se, com Hannah Arendt, os pressupostos que justificam a história de um constitucionalismo, com o esforço de recordação do ato de fundação, por meio de narrativas que procuram encontrar uma linha de continuidade, entrecortada por avanços e retrocessos, entre o ato de fundação e os atos seguintes como novos começos que o rememoram. Depois, com Paul Ricœur, aponta-se que o ressentimento encontrado nas narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro impede a memória do passado constitucional, resultando na impossibilidade de se fazer uma história do constitucionalismo brasileiro, o que mantém a eternidade e a permanência do fracasso, ou da tragédia, da Constituição e do processo de constitucionalização no Brasil.
References
ARENDT, Hannah. Between past and future: six exercises in political thought. New York: The Viking Press, 1961.
ARENDT, Hannah. On revolution. London: Penguin Books, 1990.
ARENDT, Hannah. The human condition. 2nd. ed. Chicago: University of Chicago Press, 1998.
BARROSO, Luís Roberto; BARCELLOS, Ana Paula de. O começo da história. A nova interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro. In: BARROSO, Luís Roberto (Org.). A nova interpretação constitucional: ponderação, direitos fundamentais e relações privadas. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. p. 327-378.
BONAVIDES, Paulo; ANDRADE, Paes de. História constitucional do Brasil. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
CARVALHO NETTO, Menelick de. A hermenêutica constitucional sob o paradigma do Estado Democrático de Direito. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Jurisdição e hermenêutica constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2004. p. 25-44.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Poder constituinte e patriotismo constitucional: o projeto constituinte do Estado Democrático de Direito na Teoria Discursiva de Jürgen Habermas. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Notas programáticas para uma nova história do processo de constitucionalização brasileiro. In: CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade (Coord.). Constitucionalismo e história do direito. Belo Horizonte: Pergamum, 2011. p. 19-59.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade; GOMES, David Francisco Lopes. Independência ou sorte: ensaio de história constitucional do Brasil. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, n. 55, 2012, p. 19-37.
COMPARATO, Fábio Konder. Réquiem para uma Constituição. In: FIOCCA, Demian; GRAU, Eros Roberto. Debate sobre a Constituição de 1988. São Paulo: Paz e Terra, 2001. p. 77-87.
LUCAS VERDÚ, Pablo. El sentimiento constitucional: aproximación al estudio del sentir constitucional como modo de integración política. Madrid: Instituto Editorial Reus, 1985.
LUCAS VERDÚ, Pablo. Consciencia y sentimiento constitucional (examen de los factores psicopolíticos como integradores de la convivencia política). Anuario de Derecho Constitucional y Parlamentario, Universidad de Murcia, n. 9. 1997.
NEVES, Margarida de Souza. Os cenários da República. O Brasil na virada do século XIX para o século XX. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves (Org.). O tempo do liberalismo excludente: da Proclamação da República à Revolução de 1930. 2. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. p. 13-44.
PANZA, Luiz Osório Moraes. Direito e historicidade – A evolução do pensamento jurídico através das escolas hermenêuticas. A & C: Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, Fórum, n. 11, 2003, p. 101-120.
PEREIRA, Vantuil. Ao soberano congresso: direitos do cidadão na formação do Estado Imperial brasileiro (1822-1831). São Paulo: Alameda, 2010.
RIBEIRO, Gladys Sabina. O povo na rua e na justiça, a construção da cidadania e luta por direitos: 1889-1930. In: SAMPAIO, Maria da Penha Franco; BRANCO, Maria do Socorro C.; LONGHI, Patrícia (Coord.). Autos da memória: a história brasileira no arquivo da Justiça Federal. Rio de Janeiro: Gráfica da Justiça Federal da 2ª Região, 2006. p. 155-223.
RICŒUR, Paul. La mémoire, l’histoire, l’oubli. Paris: Éditions du Seuil, 2000.
TRIBE, Laurence H.; DORF, Michael C. On reading the Constitution. Cambridge: Harvard University Press, 1991.
TAMINIAUX, Jacques. Athens and Rome. In: VILLA, Dana (Org.). The Cambridge Companion to Hannah Arendt. Cambridge: Cambridge University Press, 2000. p. 165-177.
Downloads
Published
Issue
Section
License
Authors who publish in this Journal agree to the following terms:
- Authors retain copyright and grant the A&C - Administrative & Constitutional Law Review the right of first publication with the article simultaneously licensed under the Creative Commons - Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International which allows sharing the work with recognition of the authors and its initial publication in this Journal.
- Authors are able to take on additional contracts separately, for non-exclusive distribution of the version of the paper published in this Journal (eg.: publishing in institutional repository or as a book), with a recognition of its initial publication in this Journal.
- Authors are allowed and encouraged to publish their work online (eg.: in institutional repositories or on their personal website) at any point before or during the submission process, as it can lead to productive exchanges, as well as increase the impact and the citation of the published work (see theEffect of Open Access).