Jurisdição constitucional brasileira: entre protagonismo judicial e atuação dialógica

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.21056/aec.v25i101.2076

Palabras clave:

Jurisdição constitucional; Supremo Tribunal Federal; protagonismo judicial; revisão judicial dialógica; separação de poderes.

Resumen

O artigo investiga como a jurisdição constitucional brasileira, especialmente no âmbito do Supremo Tribunal Federal (STF), tem oscilado entre protagonismo/supremacia judicial e atuações de caráter dialógico. O problema de pesquisa é verificar se, nas decisões relativas à proteção de grupos vulneráveis, o STF adota predominantemente uma postura supremacista (última palavra) ou aberta ao diálogo institucional. O método é dedutivo, com pesquisa bibliográfica e análise de casos referidos no texto. Conclui-se que, embora o STF registre referências expressas ao diálogo e, em alguns julgados, assinale o caráter provisório de suas decisões ou a necessidade de atuação legislativa subsequente, não se observa a consolidação prática de um modelo dialógico; persiste um padrão de protagonismo/supremacia judicial. As teorias dialógicas permanecem mais presentes no plano argumentativo do que na rotina decisória, ainda que se mostrem promissoras para compatibilizar separação de Poderes e efetividade de direitos fundamentais.

Biografía del autor/a

  • Maria Valentina de Moraes, Universidade de Santa Cruz do Sul

    Pós-doutoranda. Doutora e Mestra em Direito pelo Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direitos Sociais e Políticas Públicas da Universidade de Santa Cruz do Sul - UNISC (Santa Cruz do Sul, Brasil), com bolsa PROSUC/CAPES e bolsa CAPES no Processo nº. 88887.156773/2017-00, Edital PGCI nº 02/2015, Universidade de Santa Cruz do Sul (Santa Cruz do Sul, Brasil) e Universidad de Talca - Centro de Estudios Constitucionales de Chile - CECOCH (Talca, Chile). Integrante do Grupo de Pesquisa "Jurisdição Constitucional aberta”, vinculado ao CNPq e coordenado pela professora Pós-Dr.ª Mônia Clarissa Hennig Leal. Professora na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC) (Santa Cruz do Sul, Brasil) e no Centro de Ensino Integrado Santa Cruz – CEISC. Consultora.

  • Mônia Clarissa Hennig Leal, Universidade de Santa Cruz do Sul

    Com Pós-Doutorado na Ruprecht-KarlsUniversität Heidelberg (Heidelberg, Alemanha) e Doutorado em Direito pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos (com pesquisas realizadas junto à Ruprecht-KarlsUniversität Heidelberg, na Alemanha) (São Leopoldo, Brasil). Professora do Programa de Pós-Graduação em Direito – Mestrado e Doutorado da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC (Santa Cruz do Sul, Brasil), onde ministra as disciplinas de Jurisdição Constitucional e de Controle Jurisdicional de Políticas Públicas, respectivamente. Coordenadora do Grupo de Pesquisa “Jurisdição Constitucional aberta”, vinculado ao CNPq. Bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq.

Referencias

ACKERMANN, Bruce. Adeus, Montesquieu. Revista de Direito Administrativo, Rio de Janeiro, v. 265, p. 13-23, jan./abr. 2014.

BALLE, José Maria Lafuente. La judicialización de la interpretación constitucional. Madrid: Constitución y Leyes, 2000.

BATEUP, Christine Annabelle. The Dialogic Promise: Assessing the Normative Potential of Theories of Constitutional Dialogue. New York University Public Law and Legal Theory Working Papers, v. 11, p. 1-88, 2005.

BICKEL, Alexander. Foreword: The Passive Virtues. Harvard Law Review, Harvard, v. 75, p. 1961-1962, 1961.

BITENCOURT. Caroline Müller. Controle Jurisdicional de Políticas Públicas. Porto Alegre: Nuria Fabris, 2013.

BRANDÃO, Rodrigo. Supremacia judicial versus diálogos constitucionais: a quem cabe a última palavra sobre o sentido da Constituição? Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2012.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade n.º 4.277. Rel. Ministro Ayres Britto. Julgada em 05 mar. 2011. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 fev. 2025.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus n.º 124.306. Rel. Ministro Marco Aurélio. Julgada em 09 ago. 2016. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 fev. 2025.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n.º 580.963. Rel. Ministro Gilmar Mendes. Julgada em 18 abr. 2013. Disponível em: <http://www.stf.jus.br>. Acesso em: 15 fev. 2025.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n.º 635659. Rel. Ministro Gilmar Mendes. Julgado em 26 jun. 2024. Acesso em: 04 mar. 2025.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

CARVALHAES, Rafael Bitencourt; MIRANDA NETTO, Fernando Gama de. Questioning our faith in the judiciary: from institutional entrenchment to the monopoly of constitution. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 2, p. 347-370, maio/ago. 2022.

CLÈVE, C. M.; LORENSETTO, B. M. Diálogos institucionais: estrutura e legitimidade. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 2., n. 3, p. 183-206, set./dez. 2015.

COSTA, Alexandre Araújo. Judiciário e interpretação: entre Direito e Política. Fortaleza: Pensar, 2013.

DIXON, Rosalind. Para fomentar el diálogo sobre los derechos socieconómicos: una nueva mirada acerca de las diferencias entre revisiones judiciales fuertes y débiles. In: GARGARELLA, Roberto (Org.). Por una justicia dialógica: el poder judicial como promotor de la deliberación democrática. 1. ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2014.

DUARTE, F. et al. Ainda há supremacia do Judiciário? In: DUARTE, F.; VIEIRA, J. R. (Org.). Teoria da Mudança Constitucional: sua trajetória nos Estados Unidos e na Europa. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.

ESCARCENA, Sebastián López. Un derecho jurisprudencial. La propiedad colectiva y la Corte Interamericana. Revista de Derecho, Universidad Católica del Norte, n. 1, Antofagasta, 2017, p. 133-189.

ESTAY, José Ignacio Martinez. Auto Restricción, Deferencia y Margen de Apreciación. Breve análisis de sus orígenes y de su desarrollo. Estudios Constitucionales: Revista del Centro de Estudios Constitucionales, Talca, n. 1, p. 365-396. 2014.

FERRAJOLI, Luigi. La esfera de lo indecidible y la división de poderes. Estudios Constitucionales: Revista del Centro de Estudios Constitucionales, Talca, n. 1, p. 337-343. 2008.

FREITAS, Daniel Castanha de; UESSLER, Danielle. A teoria do constitucionalismo democrático para a legitimação do fluxo dialógico no Brasil. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 24, n. 98, p. 161-185, out./dez. 2024.

FRIEDMAN, Barry. Dialogue and judicial review. The Michigan Law Review Association, Michigan, v. 91, p. 577-682, 1993.

GÓMEZ BISOGNO, Francisco Vázquez. El control de reformas constitucionales y el sistema de «checks and balances»: Una propuesta a la luz de la ingeniería constitucional en la que la magistratura constitucional se legitime al no tener la última palabra. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 9, n. 3, p. 543-577, set./dez. 2022.

GÓMEZ-VELÁSQUEZ, Alejandro. La colaboración armónica entre poderes: un principio inherente y necesario para el constitucionalismo transformador latinoamericano. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 10, n. 2, e238, maio/ago. 2023.

GRIMM, Dieter. Constitucionalismo y derechos fundamentales. Madrid: Trotta, 2006.

HÄBERLE, Peter. Hermenêutica Constitucional: a sociedade aberta dos interpretes de Constituição: contribuição para a interpretação pluralista e “procedimental” da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997.

HACHEM, Daniel Wunder. Derechos fundamentales económicos y sociales y la responsabilidad del Estado por omisión. Estudios Constitucionales: Revista del Centro de Estudios Constitucionales, n. 1, p. 285-328. 2014.

HACHEM, Daniel Wunder; PETHECHUST, Eloi. A superação das decisões do STF pelo Congresso Nacional via emendas constitucionais: diálogo forçado ou monólogos sobrepostos? Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 1, p. 209-236, jan./abr. 2021.

HACHEM, Daniel Wunder; PETHECHUST, Eloi. Supremacia judicial no constitucionalismo brasileiro: riscos à democracia e as alternativas das teorias dos diálogos constitucionais. Revista Brasileira de Estudos Políticos, v. 121, p. 203-250, jul./dez. 2020.

HESSE, Konrad. Significado de los derechos fundamentales. In: BENDA, E. et al. Manual de derecho constitucional. Madrid: Marcial Pons, 1996.

HIRSCHL, Ran. Towards juristocracy. The origins and consequences of the New Constitutionalism. Cambridge: Harvard University Press, 2004.

JESUS, Thiago Vasconcellos; SILVA, Sandoval Alves da; LEAL, Pastora do Socorro Teixeira. Responsabilidade pública ou diálogo deliberativo: a cooperação como proteção do acesso à justiça, do contraditório e dos direitos fundamentais na solução dos conflitos. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 22, n. 89, p. 191-216, jul./set. 2022.

KLATT, Matthias. Direitos a prestações positivas: quem deve decidir? Controle judicial ponderado. In: ALEXY, R.; BAEZ, N. L. X.; SILVA, R. L. N. da (Org.). Dignidade humana, direitos sociais e não-positivismo inclusivo. Florianópolis, 2015. p. 215–266.

LEAL, Mônia Clarissa Hennig. A Constituição como princípio: os Limites da Jurisdição Constitucional Brasileira. São Paulo: Manole, 2003.

LEAL, Mônia Clarissa Hennig. La jurisdicción constitucional entre judicialización y activismo judicial: existe realmente “un” o “el” activismo? In: Estudios Constitucionales, año 10, n. 2, 2012, p. 429-454.

LEAL, Mônia Clarissa Hennig. Jurisdição Constitucional Aberta. Reflexões sobre a Legitimidade e os Limites da Jurisdição Constitucional na Ordem Democrática. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007.

LEAL, M. C. H.; MAAS, R. H. O Amicus Curiae e o Supremo Tribunal Federal: fundamentos teóricos e análise crítica. Curitiba: Multideia, 2014.

LEAL, Rogério Gesta. Riscos e possibilidades do ativismo judicial na democracia. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 21, n. 83, p. 119-135, jan./mar. 2021.

LIMA, Sabrina Santos; LEAL, Mônia Clarissa Hennig. O controle de constitucionalidade e a atuação do Supremo Tribunal Federal na proteção das minorias: análise crítica da ADC nº 41 (cotas raciais em concursos públicos). Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 2, p. 507-528, maio/ago. 2021.

MARTÍN GUARDADO, Sergio. La última crisis de legitimidad de la jurisdicción constitucional en España. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 11, n. 1, e255, jan./abr. 2024.

MAUS, Ingeborg. Judiciário como superego da sociedade: o papel da atividade jurisprudencial na "sociedade órfã". Novos Estudos - CEBRAP, São Paulo, n. 58, p. 193-202, nov. 2000.

MENDES, Conrado Hübner. Direitos fundamentais, separação de poderes e deliberação. São Paulo, 2008. 219 f. Tese: Doutorado em Ciência Política. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

MENDES, Conrado Hübner. Una división de poderes deliberativa: entre el diálogo y la última palabra. In: GARGARELLA, Roberto (Org.). Por una justicia dialógica: el poder judicial como promotor de la deliberación democrática. 1. ed. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2014.

MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: Estudos de direito constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

MICHELMAN, Frank Isaac. A Constituição, os direitos sociais e a justificativa política liberal. In: SARLET, Ingo Wolfgang (Org.). Jurisdição e Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 131-155.

MONTESQUIEU, Charles de Secondat Baron de. Do espírito das leis. Tradução de Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2010.

MÜLLER, Fredrich. Quem é o povo?. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

NINO, Carlos Santiago. La constitución de la democracia deliberativa. Barcelona: Gedisa, 1997.

NOGUEIRA ALCALÁ, Humberto. El uso de las comunicaciones transjudiciales por parte de las jurisdicciones constitucionales en el derecho comparado y chileno. In: NOGUEIRA ALCALÁ, H. N.; GALDAMEZ ZELADA, L. Jurisprudencia del Tribunal Constitucional ante los derechos humanos y el derecho constitucional extranjero. Santiago: Librotecnia, 2014. p. 509-570.

NOGUEIRA ALCALÁ, Humberto. Teoria de los derechos fundamentales y los derechos humanos. Montevideo: Ingranusi, 2000.

NOVAIS, Jorge Reis. Direitos fundamentais: trunfos contra a maioria. Lisboa: Coimbra, 2006.

PAIXÃO, Shayane do Socorro de Almeida da; SILVA, Sandoval Alves da; COSTA, Rosalina Moitta Pinto da. A superação dos precedentes na teoria dos diálogos institucionais: análise do caso da Vaquejada. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 8, n. 1, p. 275-301, jan./abr. 2021.

SILVA, Marco Aurélio Souza da. Ativismo, populismo e judicialização da política: a difícil tarefa de compreender o comportamento decisório judicial. A&C – Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, ano 23, n. 93, p. 101-131, jul./set. 2023.

SILVA-ARROYAVE, Sergio Orlando. El equilibrio de poderes en Colombia: entre la incorrecta comprensión teórica y la inadecuada formulación constitucional. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 11, n. 2, e261, maio/ago. 2024.

STERN, Klaus. Jurisdicción constitucional y legislador. Madrid: Dykinson, 2009.

SWEET, Alec Stone. Governing with judges. New York: Oxford University Press, 2010. Chapter 7, p. 194-204.

TAVARES, A. R.; BUCK, P. Direitos Fundamentais e democracia: complementariedade/contrariedade. In: CLÈVE, C. M.; SARLET, I. W.; PAGLIARINI, A. C. (Org.). Direitos Humanos e Democracia. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 169-186.

TUSHNET, M. Revisión judicial dialógica. In: GARGARELLA, R. Por una justicia dialógica: El Poder Judicial como promotor de la deliberación democrática. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2014.

VARGAS, Eliziane Fardin de; LEAL, Mônia Clarissa Hennig. Discriminação estrutural e cotas raciais para candidaturas negras em partidos políticos: análise da decisão do Supremo Tribunal Federal na arguição de descumprimento de preceito fundamental 738/DF. Revista de Investigações Constitucionais, Curitiba, vol. 10, n. 1, e240, jan./abr. 2023.

VENZKE, Ingo. The Rol of International Courts as Interpreters and Developers of the Law: Working Out the Jurisgenerative Practice of Interpretation. Loyola of Los Angeles International and Comparative Law Review, Vol 34:99, p. 99-131, 2011.

ZAGREBELSKY, Gustavo. Historia y constitución. Madrid: Trotta, 2005.

ZAGREBELSKY, Gustavo. La ley y su justicia. Madrid: Trotta, 2014.

ZAVASCKI, Teori Albino. Eficácia das sentenças na jurisdição constitucional. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.

Publicado

2025-12-26

Cómo citar

MORAES, Maria Valentina de; LEAL, Mônia Clarissa Hennig. Jurisdição constitucional brasileira: entre protagonismo judicial e atuação dialógica. A&C - Revista de Direito Administrativo & Constitucional, Belo Horizonte, v. 25, n. 101, p. 147–174, 2025. DOI: 10.21056/aec.v25i101.2076. Disponível em: https://revistaaec.com/index.php/revistaaec/article/view/2076. Acesso em: 27 dec. 2025.