Erros do poder público e responsabilidade civil
DOI:
https://doi.org/10.21056/aec.v24i96.1912Palavras-chave:
Responsabilidade; administração pública; supervisão; sanção; discricionariedadeResumo
A máxima “the King can do no wrong” não é intelectualmente honesta. Assenta numa falácia lógica e favorece indevidamente quem exerce a autoridade. O Estado de Direito é incompatível com a ausência de responsabilização dos poderes públicos. Conferir imunidade ao poder não é apenas uma ideia ultrapassada e obsoleta, mas também injustificável. Numa sociedade aberta, é fundamental admitir a falibilidade das autoridades e as consequências dos erros. E, quanto maior o poder, maior deve ser a responsabilidade. A responsabilidade civil representa um meio adicional de legitimação do poder, bem como um instrumento de supervisão e de equilíbrio de poderes, a acrescer à responsabilidade penal, disciplinar, financeira, do contencioso administrativo da legalidade e do controlo político ou parlamentar. No entanto, existem situações em que é necessário impor limites razoáveis à responsabilidade pública, não só no âmbito legislativo e jurisdicional.Referências
ALBUQUERQUE, Pedro de; PEREIRA, Maria de Lurdes. A responsabilidade civil das autoridades reguladoras e de supervisão por danos causados a agentes económicos e investidores no exercício de atividades de fiscalização ou investigação, O Direito, Coimbra, ano 136º, tomo I, p. 89-130, 2004.
ALMHOFER, Martina. Die Haftung der europäischen Zentralbank für rechtswidrige Bankenaufsicht, Tübingen: Mohr Siebeck, 2018.
AMADO GOMES, Carla. A responsabilidade civil extracontratual da Administração por facto ilícito – reflexões avulsas sobre o novo regime da Lei 67/2007, de 31 de dezembro, Revista Julgar, Coimbra, n. 5, p. 73-98, mai./ago. 2008.
AMADO GOMES, Carla. Textos Dispersos sobre a Direito da Responsabilidade Civil Extracontratual das Entidades Públicas, Lisboa: AAFDL Editora, 2010.
AMARAL CABRAL, Rita. Dever de prevenção de perigo, Anotação ao Acórdão do Tribunal da Relação do Porto de 26 de novembro de 1992, Revista de Direito e de Estudos Sociais, Lisboa, ano 36, n. 1-3, p. 173-181, jan./set. 1994.
ASSIS RAIMUNDO, Miguel. Responsabilidade de entidades privadas submetidas ao regime da responsabilidade públicas, Cadernos de Justiça Administrativa, Braga, n. 88, p. 23-36, jul./ago. 2011.
ATAÍDE, Rui. Responsabilidade civil por violação de deveres no tráfego, Coimbra: Almedina, 2015.
ATHANASSIOU, Phoebus. Bank Supervisor’s Liability: a European Perspective, Yearbook of European Law, Oxford, vol. 30, n. 1, p. 213-254, jan. 2011.
ATIYAH, Patrick. The damages lottery, Oxford: Hart Publishing, 1997.
AVEIRO PEREIRA, João. A responsabilidade civil por actos jurisdicionais, Coimbra: Coimbra Editora, 2001.
BENIGHAUS, Daniel. Staatshaftung für fehlerhafte Aufsicht im Bereich des Kapitalmarkts, Berlim, 2009. Disponível em: < https://edoc.hu-berlin.de/bitstream/handle/18452/16639/benighaus.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 30 jan. 2024.
BENTHAM, Jeremy. An Introduction to the Principles of Morals and Legislation (1789), Oxford: Clarendon Press, 1907.
BESSA, Tiago. Crise, regulação e supervisão de hedge funds, Revista de Direito das Sociedades, Coimbra, ano II, n. 3-4, p. 849-914, 2010.
BETTENCOURT DA CÂMARA, Miguel. A responsabilidade civil dos poderes públicos: algumas ponderações do legislador, Lisboa: AAFDL Editora, 2017.
BINGHAM, Lord. The uses of Tort, Journal of European Tort Law, Áustria, vol. 1, n. 1, p. 3-15, mar. 2010.
CANARIS, Claus-Wilhelm. Verstöße gegen das verfassungsrechtliche Übermaßverbot im Recht der Geschäftsfähigkeit und im Schadensrecht, Juristen Zeitung, Tübingen, ano 42, n. 21, p. 993-1004, 1987.
CARNEIRO DA FRADA, Manuel. Teoria da confiança e Responsabilidade Civil, Coimbra: Almedina, 2004.
CARNEIRO DA FRADA, Manuel. Direito Civil – Responsabilidade Civil – o Método do Caso, Coimbra: Almedina, 2006.
CAUPERS, João. Os malefícios do tabaco – Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 236/2004, Cadernos de Justiça Administrativa, Braga, n. 46, p. 3-20, jul./ago. 2004.
CAVALEIRO DE FERREIRA, Manuel. Lições de Direito Penal, tomo I, Coimbra: Almedina, 2010.
COSTA E SILVA, Paula. A ideia de Estado de Direito e a responsabilidade do Estado por erro judiciário: the king can do no wrong, O Direito, Coimbra, ano 142, n. 1, p. 39-80, 2010.
COUTINHO DE ABREU, Jorge. Responsabilidade civil dos administradores de sociedades. 2.ed. Coimbra: Almedina, 2010.
CRAIG, Paul; ADAM, Stanislas; ABAD, Nuria; SALAZAR, Lorenzo. Rule of Law in Europe. Perspectives from Practitioners and Academics, Bruxelas: European Judicial Training Network, 2019. Disponível em: < https://lex.igo-ifj.be/sites/2122/files/articles/2019-056-rol_manual-170x240-web_final.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2024.
D’AMBROSIO, Raffaele. The ECB and NCA liability within the Single Supervisory Mechanism, Quaderni di Ricerca Giuridica della Banca d’Italia, Roma, n. 78, jan. 2015.
DECKER, Alexander. The Purposes, Organization, and Supervision of Regulators: Implications for accountability and liability, Oxford: Foundation for Law, Justice and Society, 2011.
FIGUEIREDO, Isabel Mousinho de. Responsabilidade do Supervisor Indemnização devida por fiscais e auditors, Coimbra, Almedina, 2021.
GARCIA, Maria da Glória. A responsabilidade civil do Estado e das Regiões Autónomas pelo exercício da função político-legislativa e a responsabilidade civil do Estado e demais entidades públicas pelo exercício da função administrativa, Revista do CEJ, Lisboa, n. 13, p. 305-321, jan./mar. 2010.
GARCIA, Maria da Glória; PORTOCARRERO, Marta. Anotação ao Artigo 11.º - Responsabilidade pelo risco, Comentário ao Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais entidades públicas, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2013.
GIESEN, Ivo. Regulating Regulators Through Liability - the Case for Applying Normal Tort Rules to Supervisors, Utrecht Law Review, Utrecht, vol. 2, n. 1, p. 8-31, jun. 2006.
GUILHERME CATARINO, Luís. O novo regime da Administração Independente: Quis custodiet ipsos custodes?, Revista de concorrência e regulação, Lisboa, vol. 5, n. 17, p. 171-237, 2014.
HANAU, Hans. Der Grundsatz der Verhältnismäßigkeit als Schranke privater Gestaltungsmacht, Tübingen: Mohr Siebeck, 2004.
HUGHES, Graham. Civil Disobedience and the Political Question Doctrine, New York University Law Review, Nova Iorque, vol. 43, n. 1, p. 1-19, mar. 1968.
HÜPKES, Eva; QUINTYN, Marc; TAYLOR, Michael. The accountability of Financial Sector Supervisors: Principles and Practice, IMF Working Paper, n. 05/51, mar. 2005. Disponível em: < https://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2005/wp0551.pdf >. Acesso em: 30 jan. 2024.
INFANTINO, Marta. Causation theories and causation rules. In: BUSSANI, Mauro; SEBOK, J. Anthony (Coord.), Comparative tort law: global perspectives, Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2015. p. 279-299.
KÖTZ, Jein; WAGNER, Gerhard. Deliktsrecht, Munique: Verlag Franz Vahlen, 2010.
KÜMPER, Boas. Risikoverteilung im Staatshaftungsrecht, Tübingen: Mohr Siebeck, 2011.
LANDES, William; POSNER, Richard. Joint and Multiple Tortfeasors: An Economic Analysis, The Journal of Legal Studies, Chicago, vol. 9, n. 3, p. 517-555, jun. 1980.
LIMA REGO, Margarida. Decisões em ambiente de incerteza: probabilidade e convicção na formação das decisões judiciais, Revista Julgar, Coimbra, n. 21, p. 119-147, set. 2013.
LOTHAR, Michael. Das Verhältnismäßigkeitsprinzip als Schlüssel(bund)konzept. In: JESTAEDT, Matthias; LEPSIUS, Oliver (Coord.). Verhältnismäßigkeit – Zur Tragfähigkeit eines verfassungsrechtlichen Schlüsselkonzepts, Tübingen: Mohr Siebeck, 2015. p. 42-59.
MAÇÃS, Fernanda. O controlo jurisdicional de autoridades reguladoras independentes, Cadernos de Justiça Administrativa, Braga, n. 58, p. 21-49, jul./ago. 2006.
MAÇÃS, Fernanda. Responsabilidade civil das entidades reguladoras, Cadernos de Justiça Administrativa, Braga, n. 88, p. 57-74, jul./ago. 2011.
MARKESINIS, Basil; AUBY, Jean-Bernard; COESTER-WALTJEN, Dagmar; DEAKIN, Simon. The Tortious Liability of Statutory Bodies: A Comparative and Economic Analysis of Five Cases, Londres: Bloomsbury Publishing, 1999.
MARKESINIS, Basil; DEAKIN, Simon. Tort Law, 5.ed. Oxford: Oxford University Press, 2003.
MEDEIROS, Rui. Anotação ao Artigo 10.º, Comentário ao Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e demais entidades públicas, Lisboa: Universidade Católica Editora, 2013.
MILL, Stuart. A system of logic, Londres: John Parker, West Strand, 1843.
MONTENEGRO SILVEIRA, Diana. Responsabilidade civil por danos causados por medicamentos defeituosos, Coimbra: Coimbra Editora, 2014.
MOURA VICENTE, Dário. Direito Comparado – Volume II – Obrigações, 4.ed. Coimbra: Almedina, 2019.
NOGUEIRA DE BRITO, Miguel. A justificação da propriedade privada numa Democracia Constitucional, Coimbra: Almedina, 2008.
NOLAN, Donal. The Liability of Financial Supervisory Authorities, Journal of European Tort Law, Áustria, vol. 4, n. 2, p. 190-222, ago. 2013.
PEREIRA DA SILVA, Vasco. O Contencioso Administrativo no Divã da Psicanálise - Ensaio sobre as Acções no Novo Processo Administrativo, Coimbra: Almedina, 2005.
POSNER, Richard. Reflexions on Judging, Cambridge: Harvard University Press, 2013.
QUEIROZ, Eça de. As Farpas, Lisboa: Typographia Universal, 1871.
QUEIROZ, Eça de. Uma campanha alegre, Lisboa: Companhia Nacional Editora, 1891.
RAIMANN, Mathias. Product liability. In: BUSSANI, Mauro; SEBOK, Anthony J. (Org.). Comparative tort law: global perspectives, Cheltenham: Edward Elgar Publishing, 2015. p. 236-263.
REBELO DE SOUSA, Marcelo; SALGADO DE MATOS, André. Responsabilidade Civil Administrativa. Direito Administrativo Geral, tomo III, Lisboa: Dom Quixote, 2008.
REBHAHN, Robert. Financial Crisis and State Liability, Zeitschrift für Öffentliches Recht, Áustria, vol. 69, n. 3, p. 291-314, set. 2014.
REIMER, Philipp. Verhältnismäßigkeit im Verfassungsrecht, ein heterogenes Konzept, In: JESTAEDT, Matthias; LEPSIUS, Oliver (Coord.). Verhältnismäßigkeit – Zur Tragfähigkeit eines verfassungsrechtlichen Schlüsselkonzepts, Tübingen: Mohr Siebeck, 2015. p. 60-76.
REIS NOVAIS, Jorge. Contributo para uma teoria do Estado de Direito – do Estado de Direito Liberal ao Estado Social Democrático de Direito, Coimbra: Almedina, 2006.
ROBERTSON, Geoffrey. The Justice Game, Londres: Vintage Publishing, 1999.
ROSAS CASTRO, Jorge. Consentimento informado e medicina defensiva, Revista Julgar, Coimbra, número especial, p. 207-223, jun. 2014.
SACARCELIK, Osman. Europäische Bankenunion: Rechtliche Rahmenbedingungen und Herausforderungen der einheitlichen europäischen Bankenaufsicht, Zeitschrift für Bank- und Kapitalmarktrecht, Munique, p. 353-360, set. 2013.
SIEKMANN, Helmut. Die Neuordnung der Finanzmarktaufsicht, IMFS Working Paper Series, n. 25, 2009. Disponível em: < http://www.imfs-frankfurt.de/fileadmin/user_upload/pdf/WP_2009_25_Siekmann.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2024.
SINDE MONTEIRO, Jorge. Responsabilidade por conselhos, recomendações ou informações, Coimbra: Livraria Almedina, 1989.
STAPLETON, Jane. Duty of care: peripheral parties and alternative opportunities for deterrence, Law Quarterly Review, Oxford, vol. 111, n. 2, p. 301-345, abr. 1995.
TISON, Michel. Do not attack the watchdog! Banking supervisor’s liability after Peter Paul, Common Market Law Review, Leiden, vol. 42, n. 3, p. 639-675, abr. 2005.
VAN DAM, Cees. Liability of Regulators (Aansprakelijkheid van Toezichthouders), Summary, British Institute of International and Comparative Law, 2006. Disponível em: < https://www.biicl.org/files/879_summary_liability_of_supervisors%5B2%5D.pdf>. Acesso em: 30 jan. 2024.
VAZ SERRA, Adriano. Obrigação de indemnização (colocação, fontes, dano, nexo causal, extensão, espécies de indemnização). Direito de abstenção e de remoção, Boletim do Ministério da Justiça, Lisboa, n. 84, p. 5-557, mar. 1959.
Downloads
Publicado
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Isabel Mousinho de Figueiredo
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Autores que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:- Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Creative Commons Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
- Autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial nesta revista.
- Autores têm permissão e são estimulados a publicar e distribuir seu trabalho online (ex.: em repositórios institucionais ou na sua página pessoal) a qualquer ponto antes ou durante o processo editorial, já que isso pode gerar alterações produtivas, bem como aumentar o impacto e a citação do trabalho publicado (Veja O Efeito do Acesso Livre).